Destaque

Arena na Praça Castro Alves teria impactado todo o Centro Histórico

A imagem pode conter: atividades ao ar livre
Projeto de uma Arena para shows na Praça Castro Alves sofreu forte reação e foi abortado

Albenísio Fonseca

A divulgação dos estudos preliminares de um projeto que previa a construção de uma Arena para shows com capacidade para 5 mil pessoas na Praça Castro Alves, por parte da Secretaria de Turismo da Bahia, em 2013, provocou imediata reação de artistas e agentes culturais da cidade. O assunto passou a ser amplamente discutido nas redes sociais. Logo, uma petição pública online contra o projeto foi criada e, em pouco mais de 48 horas, 1.500 assinaturas já haviam sido coletadas.

O esboço do projeto, em termos estéticos, sequer preservava o monumento ao poeta e o dos criadores do trio elétrio Dodô e Osmar. Sem equilíbrio ambiental, tornava ainda mais árida a velha e famosa praça. Aparentemente terrível, era, no entanto, apenas um esboço. A questão, contudo, era a própria concepção da proposta em si, que previa estacionamento subterrâneo, mas sob capacidade bastante inferior ao público que comportaria, entre outros graves impactos no Centro Histórico de Salvador.

No momento em que se cogita novas intervenções naquela praça, em decorrência da descoberta arqueológica de estrutura supostamente vinculada ao Theatro São João (1812-1923), vale rever o que persiste como demandas em aberto naquele trecho da cidade.

Se criada ao custo de R$ 25 milhões, a Arena, em pleno funcionamento, “inviabilizaria os demais equipamentos do complexo cultural da região, que abrange o Espaço Itaú/Glauber Rocha, o Espaço Cultural da Barroquinha,  o da Caixa Cultural, o Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira, além do Teatro Gregório de Matos que começava a ser restaurado e o Hotel Fasano, já em construção”.

Com a política de fomento a espetáculos de massa, com seus megashows, milhares de pessoas travariam o trânsito, não haveria espaço para estacionar. “As paredes do cinema, como em todo evento na Praça Castro Alves, se transformariam em mictório a céu aberto. O cidadão que quisesse ir a algum daqueles equipamentos já existentes, encontraria bastante dificuldades”.

Em artigo sob o título “Uma lógica esmagadora”, no jornal A Tarde, em janeiro daquele ano, o cineasta e administrador do Cine Itaú/Glauber Rocha, Cláudio Marques, disparou mais uma saraivada de argumentos contrários à iniciativa e no afã de políticas culturais coerentes para com a praça e o sítio histórico:

“Nas proximidades da Praça Castro Alves, existem a Concha Acústica, o Museu do Ritmo, as praças Thereza Batista e Pedro Arcanjo, o Trapiche Barnabé, shows, shows!!! A lógica das festas em Salvador é onipresente Parte da planta do projeto da Arena Castro Alves - Foto: Divulgação | Seture esmagadora. Estamos perigosamente reduzidos a uma fórmula que já está desgastada.

Parece que não podemos fazer outra coisa, desenvolver outras atividades, formar novos públicos… e isso nos levará à morte, culturalmente. Temos que continuar lutando pela diversidade artística na cidade, inclusive musical. Precisamos fugir da lógica das massas. Tudo é alto, barulhento e pensado para multidões.

O Centro Histórico é um lugar precioso, um dos mais belos de todo o mundo. É necessário criar condições para moradias, para pessoas que irão zelar por aqueles espaços cotidianamente. Deve-se priorizar empreendimentos culturais de pequeno e médio portes. É improvável que alguém tenha o desejo de morar ao lado de uma Arena para shows.

Mas é fácil crer que alguém queira morar ao lado de um cinema, dois teatros, dois centros culturais e um museu. A bagunça em que está imersa a Praça Castro Alves, hoje, afugenta empresários e artistas. Muitos sonham, mas quase todos temem a falta de ordenamento na região.

A praça e seu entorno precisam, urgentemente, de uma revitalização. Mas necessitam de coisas mais simples que uma Arena. A fiação elétrica do entorno precisa ser modernizada. As pedras portuguesas devem ser mantidas, mas renovadas. A população precisa de bancos e árvores, pois a praça está árida, inóspita. Precisamos de espaços para bicicletas e mais linhas de ônibus.

A população de Salvador tem o direito a desfrutar desse mirante natural, onde é possível ver o pôr-do-sol e da lua na Baía de Todos-os-Santos, durante o ano inteiro. Com tanto casarão em ruínas, vamos gastar R$ 25 milhões para construir uma Arena para shows? Quando vamos começar a cuidar do que já existe?”.