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Imagem histórica dos primeiros mineradores usando calça jeans
Albenísio Fonseca
Para cobrir sua nudez original, primeiro o homem vestiu peles de animais, depois tecidos de lã, algodão, linho, seda, os sintéticos e o jeans. Único ser na natureza sem qualquer tipo de defesa para proteger-se das variações atmosféricas – afinal, a pele é bem mais um tecido sensorial – o corpo humano é o que menos resiste às temperaturas extremas.
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E o império da moda não cessa sua atuação cíclica. Agora é a vez do jeans dar uma nova volta por cima e reaparecer em cena. Pois é, a calça Lee Rider´s está completando 96 anos. Lançada em 1924, fazia parte de um esquema de expansão dos produtos da Lee Company, empresa de Henry David Lee (foto), que até então operava mais com modelos do tipo jardineira.
Dedicada aos mineiros e cowboys do Oeste norte-americano, a calça que revolucionaria o mundo da moda nos anos 60, era ideal para mineradores e vaqueiros. Reforçadas com rebites, elas não rasgavam com o atrito das selas e pedras.
PRÉ-HISTÓRIA, O TECIDO DE NIMES
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Mas a “pré-história” dos jeans tem início em Nimes, na França, onde o tecido foi fabricado pela primeira vez em 1792. Rapidamente começou a ser conhecido por “tecido de Nimes”, expressão que com o tempo foi abreviada para “Denim”.
Por ser um tecido robusto e durável, sem necessitar de grandes cuidados no seu uso, começou por ser utilizado essencialmente em roupas para trabalhos no campo e pelos marinheiros italianos que trabalhavam no porto de Génova. Mais tarde chegou aos Estados Unidos, onde a sua introdução, como veremos, está recheada de curiosidades.
LEVI STRAUSS E A CORRIDA DO OURO
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Na altura da corrida ao ouro na Califórnia, por volta de 1853, andava por aqueles lados um jovem judeu alemão, de nome Levi Strauss, que tinha começado por vender lona para as carroças dos mineiros e que, ao perceber que as roupas dos mineiros não eram adequadas para o desgaste que sofriam, levou um deles a um alfaiate e fez-lhe umas calças com o tecido que vendia para cobrir as carroças.
Inicialmente de cor marrom, as calças criadas por Levi Strauss rapidamente se tornaram um sucesso entre os mineiros da Califórnia. Mas existia uma queixa recorrente: o tecido era pouco flexível.
Levi Strauss resolveu então procurar um tecido que fosse ao mesmo tempo resistente, durável, flexível e confortável de usar. Ele decidiu procurar esse tecido na Europa, continente mais desenvolvido à época, tendo encontrado e passado a usar o tal “tecido de Nimes”, feito de algodão sarjado. ![Nenhuma descrição de foto disponível.](https://scontent.fssa7-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/91911164_10207212725152330_1543149468478603264_n.jpg?_nc_cat=101&_nc_sid=8024bb&_nc_eui2=AeFk9OdPZddyV-l0xcN-DbjMAD1nZ1aktb8APWdnVqS1v1YWOnyIGWN3vni98ZsjRVA&_nc_oc=AQmFchE_KTjksws6dFEUMN5_Q85Nuz8cnl4irxNKJwkx84q_6m9vq7-xO70kLj6nxmOYUIDtrpfreYobsNcVFCll&_nc_ht=scontent.fssa7-1.fna&oh=5f47e00c46a6d2104c19a8a39e09911e&oe=5EAF7258)
O primeiro lote de calças da Levi Strauss tinha como código o número 501, que acabou por se tornar no modelo mais famoso e clássico da Levi Strauss. Devagarinho, com o passar dos anos, as calças jeans foram sendo melhoradas. Em 1860 foram acrescentados os botões de metal. Em 1886 começou-se a coser a etiqueta de couro no cós das calças. Levi Strauss & Company começou a usar o design das calças com bolsos e, juntamente com o alfaiate David Jacobs, patenteou o processo de colocar rebites de cobre (as tachinhas) para reforçar as peças. Em 20 de maio de 1873, eles receberam o certificado de patenteamento e essa data passou a ser considerada a de aniversário oficial do jeans.
Já a cor azul índigo, que predominaria no tecido, só começou a ser utilizada em 1890 e foi, nada mais, nada menos, que uma estratégia (bem solucionada) de tornar os jeans mais atraentes. Os bolsos traseiros somente passaram a ser adotados em 1910.
DO PÓS-GERRA À GERAÇÃO BEAT
![Nenhuma descrição de foto disponível.](https://scontent.fssa7-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/91786110_10207212727192381_3108325281597751296_n.jpg?_nc_cat=105&_nc_sid=8024bb&_nc_eui2=AeGdHbY_zk4qbHMFpxNgMHGWf-qlfGE349l_6qV8YTfj2cBnA3wHuIvJyQVZBU8sTOs&_nc_oc=AQnrZHRXOLfua9F9dlJhPdjlqLAMmCDjVnWBO7Q4jKJC4Bi6W64Xw1Zx21VAh7FqGfD7t1-zmTfdkZwGE_o7HkJm&_nc_ht=scontent.fssa7-1.fna&oh=5daea7062e6186fb25190f61f11e4951&oe=5EAF6291)
A popularidade mundial dos jeans começa por volta da década de 1930, através de filmes de sucesso que retratavam os famosos cowboys americanos. A Segunda Guerra Mundial popularizou a imagem de virilidade que o tecido Denim representava, pois passara a ser utilizado nas fardas do exército americano.
Não é assim de estranhar que a expansão dos jeans na Europa se tenha dado após a Segunda Guerra Mundial. Após o final da guerra, as calças que obtiveram tanto sucesso junto aos mineiros americanos tornaram-se num tipo de moda que, contrariamente ao habitual, tinha nascido do povo até chegar aos estilistas e não criada pelos estilistas para o povo.
DO GENES AO JEANS
Os jeans passaram a ser usados em todos os continentes, tanto por trabalhadores do campo como os da cidade, tanto por ricos quanto pelos pobres e, curiosamente, mantendo as características originais das primeiras calças feitas por Levi Strauss.
è correto afirmar que hoje em dia os jeans são peças obrigatórias em qualquer guarda roupa feminino ou masculino. Permanece, no entanto, uma derradeira questão. Porque razão se chama “jeans” às calças criadas por Levi Strauss?
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O “tecido de Nimes” era utilizado na roupa dos marinheiros do Porto de Génova. Esses marinheiros genoveses tinham o costume de chamar “genes” às suas calças de trabalho. E quando pronunciavam a palavra “genes”, com o habitual sotaque italiano vincado, a expressão acabou por se transformar, com o tempo, em “jeans” e assim se espalhou pelo mundo.
METAMORFOSE: O CORPO SEM ARTIFÍCIOS NO TECIDO SEM REFERÊNCIA
“O jeans surgiu quando o corpo sem artifícios encontrou o tecido sem referência” – chegou a expressar Claudine Elsykman, em 1974, ao percorrer a exposição “Metamorfose em jeans”, montada pelo Museu de Arte Contemporânea de Nova York.
![Top 10 Denim Idols | Personagens de filmes, Fotos e Anos 50](https://i.pinimg.com/originals/cd/d8/05/cdd80511c374b10a9849d70c3803769b.jpg)
Adotada pela juventude da Beat Generation e do Flower Power, depois de James Dean exportar rebeldia para o mundo em “Juventude Transviada”, para além do escurinho do cinema, o sucesso do jeans em sua versão Lee Rider´s permitiria à empresa de Henry associar-se, em 1969, à UF Association, formando um dos maiores gigantes do universo da confecção.
Passou, então, a produzir em quatro continentes e a comercializar o produto em 140 países. No final dos anos 70, comprou a Wrangler, outra grande produtora do setor. A fusão permitiu à Lee Company implantar fábricas nos Estados Unidos e na Europa, com organização de “joint ventures” na Espanha, Brasil e Austrália.
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“É CONTRA O IMPERIALISMO MAS SÓ USA CALÇA LEE”
Convertida numa “coqueluche” – todo mundo queria mesmo era estar posando com uma Lee Rider´s “legítima” – mesmo quando passou a ser discriminada como um signo do imperialismo americano sobre as nossas dóceis mentes colonizadas econômica, cultural e politicamente. Na MPB, fez sucesso o “Garoto Paisandu: “É contra o imperialismo, mas só usa calça Lee”.
A instalação da primeira fábrica da Lee Company no Brasil somente aconteceria em 1974. O jeans ganharia diversas outras marcas sempre seguindo o modelito pret-à-porter (five pockets reto e justo) estabelecido há mais de um século pela Levi´s, precursora da Lee Rider´s. Até então, o contrabando se dava pelos portos nas grandes capitais.
DO ÍNDIGOFERA AO ÍNDIGO BLUE
O índigo (que dá a coloração anil) é dado como o primeiro corante vegetal utilizado. O azul índigo, ou índigo blue, pode ser obtido a partir de plantas pertencentes a vários géneros, sendo o género Indigofera o mais importante; neste, a espécie L., nativa da Índia e Sudeste da Ásia, é que tem uso mais generalizado.
O nome do género foi escolhido por Carl Linnaeus (1707-1778), com base no grego indikón = azul-indiano (nome atribuído ao corante azul que provinha da Índia) e no sufixo latino “fera”, à planta que produz o azul-índigo.
Gilberto Gil erotiza o uso de jeans de forma magnífica em um blues:
“(…) Sob o blusão, sob a blusa
Nas encostas lisas do monte do peito
Dedos alegres e afoitos
Se apressam em busca do [bico] do peito
De onde os efeitos gozosos
Das ondas de prazer se propagarão
Por toda essa terra amiga
Desde a serra da barriga
Às grutas do coração (…)”
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A FACE CAMALEÔNICA ACIMA DA LUTA DE CLASSES
Atualmente a linha de produtos Lee conta com mais de 100 modelos dirigidos aos públicos feminino, masculino e juvenil. Segundo a produtora de moda Eveline Abreu, “o jeans consegue ser camaleônico sem perder o caráter. Já adotou boca-de-sino, cintura baixa, cintura alta, já foi justo, tacheado, pintado, bordado e rasgado”.
– De “lona-calça” para mineradores à jardineira e pantalona para cowboys, tornou-se macacão de operário, vestido, saia, biquíni e até sapato e terno. Há, ainda, peças utilitárias, como tapetes, jogos de banheiros e até cortinas. O jeans combina com todas as cores, como se fosse feito para todas elas, acentuando também todo e qualquer tipo de enfeites e, amplamente adotado, socialmente disseminado, está acima da luta de classes, ressalta Eveline. Como se o império do jeans mantivesse leis de atração próprias, a exemplo do desejo a sobrevoar as asas da história.